Chamo-me Rita Sousa Lobo. Adoro música, arte, natureza, a minha família e os meus animais. Sempre fui motivada por questões relacionadas com a subjetividade, emoções, cultura, grupos e tecnologia. Formei-me em Filosofia e em Psicologia Clínica, assim como no modelo psicanalítico individual e de grupo. Tenho a minha própria clínica privada há 18 anos.
Como é a minha abordagem?
A minha abordagem enquadra-se na psicanálise relacional, com inspiração fenomenológica, observando as necessidades e dificuldades específicas que cada um vivencia dentro do seu contexto. Os diagnósticos servem como uma referência mas o que importa é a pessoa e as suas circunstâncias. Priorizo a relação terapêutica e estou atenta ao impacto do tipo de vida pós-moderna na saúde.
EXPERIÊNCIA CLÍNICA
A ansiedade é a expressão psicológica da activação do instinto de sobrevivência de medo. Activa um sinal de perigo aumentando os pensamentos negativos e de controlo, especialmente em situações de desamparo e incerteza. A ansiedade não tem de ser consciente, sendo muitas vezes apenas vivida através de sintomas somáticos e / ou emocionais (batimento cardiaco e respiração acelerada, choro descontrolado).
A depressão é um transtorno de humor, que se traduz na interpretação negativa da experiência do mundo, dos outros e do próprio. Manifesta-se num humor mais triste pelo isolamento social, sentimentos de culpa excessiva, baixa auto-estima, ou desejo de morrer, como com um humor irritável com ideias agressivas. No aspecto psicossomático surgem queixas como insônia, fadiga ou anorexia.
Os estados psicóticos são um caso-limite da existência humana devido a aniquilação da própria consciência, levando a perda do senso de si próprio e da realidade.
Neste sentido é muito importante reconectar a pessoa, estabelecendo um sentimento de segurança e tentar compreender a sua forma de comunicar. Os estados psicóticos são abordáveis em psicoterapia mas com ajuda de medicação.
As perturbações nos vínculos / laços, ou as mágoas nos relacionamentos, criam grandes obstáculos à capacidade de conexão. Estes problemas no vínculo quando não são tratados levam à rigidez das relações, em que cada pessoa desempenha um papel extremado como por exemplo de vitima ou agressor ou submisso ou dominante.
Sentimentos de vazio e solidão surgem associados a uma perturbação na vinculação, que pode ser resultante de uma experiência de desamparo / e ou abandono afectivo. Pode ocorrer na infância, na adolescência ou na idade adulta, pela existência de uma inconstância nas relações, de uma forte dependência emocional ou da perda de apoio de alguém significativo.
O mar, como antigos gregos o entendiam, era o símbolo da vida como totalidade e desconhecido. Sem um bom piloto para navegar esse mar perdia-se o rumo. Para se ser um bom piloto da vida é necessária uma consciência aguda do que está em jogo a cada momento, permitindo navegar na vida com sentido. É com esta metáfora que revejo a concepção de auto-conhecimento.
O que acontece
1. O estabelecimento de um relacionamento seguro - aprender e mudar só pode ocorrer em segurança.
2. As sessões decorrem em ambiente de baixo a moderado stress - algum stress promove a plasticidade, mas além de um determinado limite, os sistemas cerebrais que regulam a mudança e as aprendizagens fecham-se.
3. Activa se pensamentos e de sentimentos - pensar e sentir são ambos fundamentais no processo de psicoterapia, pois sem ambas as vertentes (racional e emocional) não é possível a integração de sistemas neuronais cognitivos e emocionais subjacentes à eficácia da psicoterapia.
4. Cria se uma nova história pessoal adaptável - uma terapia eficaz permite perceber a história da pessoa, compreender o que correu mal e o que é preciso fazer para ter mais saúde.
Muitas pessoas sentem que a psicoterapia de grupo pode ser mais poderosa e promotora de mudança do que a terapia individual. Podemos enunciar pelo menos 5 benefícios
1. A terapia de grupo ajuda a perceber que não está sozinho.
2. A terapia de grupo facilita o dar e receber apoio.
3. A terapia de grupo ajuda a encontrar a sua "voz".
4. A terapia de grupo ajuda a se relacionar-se com os outros (e consigo mesmo) de maneiras mais saudáveis.
5. A terapia de grupo fornece uma rede de segurança.
Embora tenha feito a formação em Grupanálise na Escola Portuguesa de Grupanálise optei pelo modelo grupanalítico original da Grupanálise Inglesa, com foco no treino do Ego em acção e os aspectos relacionais do mesmo.
Os grupos podem ir até 8 elementos, aberto a novos membros enquanto há vaga, com sessões regulares, duas vezes por semana. O objectivo mais importante, para além dos benefícios enunciados, passa por uma mudança profunda, com ênfase nos aspectos implícitos (ou inconscientes) da vivência pessoal, compreendidos na dinâmica intersubjectiva e relacional do grupo.
Eduardo Lourenço considerava que o povo português mantinha uma relação irrealista consigo próprio. Por considerar esta percepção verdadeira e presente na nossa mentalidade, dedicamos tempo a analisar esta relação dita "irrealista" que nos caracteriza. A matriz da saudade é um trabalho de investigação onde tentamos integrar uma perpectiva psicanalítica, fenomenológica e histórica, para compreender a cultura poruguesa. O conceito de matriz da saudade explica que o trauma português foi a perda ( de pessoas, bens, e prestigio relacionado com os descobrimentos, perda de soberania, inquisição e emigração). A transmissão transgeracional deste trauma emerge na caracteristica unica dos sentimentos de Saudade, isto é, um misto entre dor e prazer, entre encanto e desencanto, entre quer e não querer.
As manifestações afectivas da Saudade passam por um culto do imobilismo, do absurdo e do messianismo, romantizado pela ideia de fado e encarnada num heroi sofrido e cansado.A saudade está inscrita no domínio do onirismo ou da ilusão. Podemos considerá-la um artefacto cultural ancorada numa relação com objetos perdidos que outrora existiram de forma amorosa e cuja manutenção da relação com esses objetos perdidos é suportada pela fé poética, pois o pensamento crítico e a lógica são evitados e o irreal ou impossível torna-se o campo relacional escolhido, dando lugar ao um sentimento mistico. A pessoa deixa de pensar no que viu ou ouviu e entrega-se à ficção.
Neste sentido, a saudade, na matriz portuguesa, torna-se obstáculo à transformação e ao desenvolvimento preendendo os sujeitos a uma fixação no objeto perdido que preserva um ideal de paraíso que só pode ser visitado através de devaneios evitando olhar a realidade de frente. Essas experiências culturais prolongadas produzem um estado de espírito desprendido, um escapismo através da nostalgia que proporciona uma pausa temporária nas dificuldades e desafios da vida real e um alívio ou conforto de um mundo idealizado, de "outros tempos".
No nosso entender a saudade, em todo o seu esplendor, deveria ser remetida para o plano de uma experiência estética que claramente se relaciona com temas como o amor, a perda e a passagem do tempo, evocando um certo estado de espírito ou uma atmosfera marcada por uma beleza agridoce, pois essa experiência de unidade com o objeto já não é possível replicar no real. Como experiência estética a saudade tenta criar pela poesia e música, onde o fado é o género musical por excelência, esse lugar oceânico, a ligação ao lugar perdido.
Neste sentido aplicada na cultura quotidiana pode ser impediditiva do desenvolvimento do proprio grupo português. No entanto como forma estética tem o poder para conservar. de forma muito bela, espaços, memórias, pessoas e objectos que são emocionalmente significativos.
A actual dinâmica social, devido à sua compartilhabilidade virtual, dissemina rapidamente princípios de não localização e descentralização, pela revolução da fisica contemporanea, gerando resistência a concepções de que há algo fixo ou permanente.
Seguindo a argumentação de Bauman (2000), a era da modernidade pesada ou sólida, dominada pela conquista territorial, pela ocupação e proteção do lugar como fortaleza e prisão, onde as rotinas, as linhas de montagem eram a realidade, desapareceram progressivamente com o advento da modernidade liquida. As tradições esvairam-se e as organizações afrouxaram para poderem ir com o fluxo. O mundo hoje é percebido como múltiplo, complexo e em movimento rápido, ambíguo, difuso, ou plástico, avesso às estruturas duráveis. O espaço-tempo é de trânsito ou de fluxo como podemos observar no aumento da frequência das pessoas em shoppings, aeroportos, hoteis, autoestradas, parques de estacionamento, e outro espaços transitórios. No universo virtual o espaço-tempo pode ser atravessado quase instantaneamente.
No ensaio “O aroma do tempo” de 2016, sobre a arte da demora, Byung-Chul Han observa que a aceleração do tempo na atualidade “não é um acontecimento primário”, mas deriva da descontinuidade ou da atomização. A pós-modernidade é o o fim da crença num cosmos hierarquicamente ordenado. A nova condição humana é carregada por concepções de globalidade, de excesso ou superabundância. Neste sentido começa a perder-se a noção de ser preciso retornar ou reviver algo que esteja no espaço-tempo sólido.
O sujeito pós-moderno
Segundo Hall (1992) o sujeito iluminista ou o cogito cartesiano, baseava-se na concepção de uma pessoa humana como um indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades de razão, consciência e ação. O núcleo era interno mantendo-o essencialmente o mesmo – contínuo ou idêntico a si mesmo – ao longo da existência individual. O eu permitia a identidade da pessoa.
O sujeito pós-moderno não mais é assim. O “homem sem qualidades” do escritor austríaco Robert Musil, publicado entre 1930 e 1943, já o anunciava. O homem agora caracteriza-se como de identidade móvel. À medida que os sistemas de significado e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e fugaz de identidades possíveis, com as quais nos poderíamos identificar, pelo menos temporariamente. Assim como o espaço e o tempo as identidades pós-modernas tendem para a descontinuidade. Apesar da identidade da sociedade sólida ser rigida e sujeita a problemas, as identidades liquidas podem potenciar uma expansão excessiva e disforme de um eu sem limites e desvinculado. Sentimentos de inquietação, desenraizamento e estranheza poderão entretecer os modos de vida e instalar-se uma era caracterizada pelo escape, a desconexão, o ter que estar sempre noutro espaço-tempo. Nesta época de excessos o burn-out é o adoecimento mais plausível de experienciar.
Como podemos lidar com esta nova realidade?
Precisamos de recuperar a capacidade de integrar e criar vínculos connosco, com os outros e com o mundo, para que possamos transformar os elementos desagregados do espaço-tempo e das identidades em realidades flexiveis em torno de núcleos integros e estáveis. Precisamos de unir o melhor de dois mundos: o sólido e o liquido.
Em construção